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Visita aos Palotinos na Ucrânia: uma experiência de guerra

De 4 a 9 de junho, realizamos a visita canônica aos palotinos que atuam na Ucrânia. Estivemos presentes três membros do Regime Geral: Pe. Zenon Hanas, Reitor Geral; Pe. Jeremiah Murphy, Vigário Geral; e eu, Pe. Vanderlei Luiz Cargnin, Ecônomo Geral.
Os palotinos na Ucrânia formam uma delegação vinculada à Província Cristo Rei de Varsóvia, na Polônia, atualmente a maior província da SAC em número de membros. Hoje, há 17 palotinos atuando no país, sendo 11 ucranianos e 6 poloneses, distribuídos em 8 casas.
A Igreja Católica na Ucrânia é minoria. A maior parte da população pertence à Igreja Ortodoxa. Entre os cerca de 10% de católicos ucranianos, a maioria integra a Igreja Greco-Católica Ucraniana, enquanto uma parte menor pertence à Igreja Católica de Rito Latino (também conhecida como Igreja Católica Romana), à Igreja Católica Bizantina Rutena e à Igreja Católica Armênia. Existem atualmente sete dioceses de rito latino no país. Com a guerra, muitos católicos emigraram.
Já estive em regiões de conflito, como Namuno, no norte de Moçambique, e na República Democrática do Congo, mas nunca havia vivido uma experiência de guerra como na Ucrânia. Compartilho aqui algumas vivências marcantes:
Funeral de um Jovem
Participamos do funeral de um jovem de 19 anos, ligado aos palotinos e com desejo de ingressar no seminário. Ele atuava como voluntário na guerra, sendo instrutor de drones. Ao retornar de uma missão, foi atingido por um drone e morreu. O enterro durou cerca de quatro horas. Durante o cortejo, nas ruas, as pessoas se ajoelhavam e choravam. Flores foram espalhadas ao longo do trajeto do féretro. Foi profundamente tocante testemunhar a dor de uma mãe que perde seu filho para a guerra.
O Sentimento da Guerra
Percebe-se um cansaço profundo entre as pessoas. Muitas enfrentam depressão, medo constante e noites sem dormir, devido ao risco de ataques aéreos com drones. Em várias cidades, é comum ver bunkers nas casas e cemitérios repletos de soldados mortos.
Sacerdotes Palotinos e a Guerra
Anteriormente, um decreto de um general ucraniano isentava os sacerdotes do serviço militar. Com sua saída, o decreto foi revogado. Hoje, há temor entre os padres, pois podem ser convocados a qualquer momento. Estão isentos homens com três filhos, estudantes, mulheres, idosos com mais de 70 anos e pessoas com doenças graves. Alguns palotinos estão trabalhando com soldados feridos e na linha de frente, oferecendo apoio e escuta espiritual. Dois padres chegaram a ser detidos para o recrutamento, mas conseguiram ser liberados.
Reflexão Final
Nestes dias na Ucrânia, vi e senti a dor de um povo marcado pela guerra: destruição, perdas humanas, famílias separadas, crise econômica e abandono forçado da própria terra. Agradeço a Deus por vivermos no Brasil, onde, apesar das dificuldades, não enfrentamos a realidade brutal da guerra.
O Papa Francisco tem sido uma voz firme contra os conflitos armados. Ele afirma que a guerra é um "horror", uma "loucura", uma "derrota" que ofende Deus e a humanidade. Reforça que jamais devemos nos acostumar com a guerra, e clama por paz, cessar-fogo e libertação de reféns.
Que nossa presença como palotinos, mesmo em meio a tanto sofrimento, possa ser sinal da esperança e da paz de Cristo.
Por Pe. Vanderlei Luiz Cargnin, SAC - Ecônomo Geral