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Padre Duvílio Antonini (1929-2025)

Origens e infância
Nascido em 20 de junho de 1929, em Jaguari (RS), Padre Duvílio Antonini é filho de Gildo Antonini e Tereza Tâmbara Antonini. Cresceu em uma família numerosa de origem italiana, formada por seis irmãos. Desde cedo foi marcado pela religiosidade transmitida pelos pais, pela disciplina do pai agricultor e pela fé da mãe, sua primeira catequista.
Por ocasião do Jubileu de 50 anos de vida presbiteral, em texto publicado nas Informações Palotinas (ano 66, nº 2, julho/dezembro de 2008), ele recorda a infância como um tempo de simplicidade e felicidade, vivida entre a lida no campo, as brincadeiras — como futebol, bolinhas de gude e bochas — e as orações aprendidas com a avó paterna, em italiano. A primeira eucaristia, celebrada em 1938, permanece como a lembrança mais luminosa de sua juventude.
Apesar das dificuldades financeiras, que o impediram de prosseguir os estudos após o primário, cultivou grande amor ao aprendizado, reconhecendo nos professores um papel fundamental em sua formação moral e intelectual. Desde cedo, também recebeu dos pais lições de honestidade e responsabilidade que moldaram sua consciência.
O chamado à vocação
Inicialmente, não pensava em ser padre. Mas a convivência com missionários redentoristas e os Irmãos Lassalistas despertou nele o desejo pela vida religiosa. Recebeu o convite de seu primo palotino, padre Félix Albino Pillon, para ingressar no Seminário de Vale Vêneto (RS), em 1944, foi decisivo.
No seminário, enfrentou saudades, dificuldades de adaptação e até a perda do pai, em 1949, cuja última recomendação, “Juízo é!”, nunca esqueceu. Foi nesse período que conheceu a espiritualidade do Movimento de Schönstatt, que o marcaria para sempre.
Após experiências pastorais em Porto Alegre e um discernimento pessoal sobre a vocação, ingressou no noviciado dos Padres e Irmãos Palotinos, em Cadeado (RS), em 02 de fevereiro de 1951. Em 02 de fevereiro de 1953, fez a primeira profissão religiosa e os estudos filosóficos, no Seminário Maior de Polêsine (RS). Concluiu os estudos teológicos em Santa Maria (RS), no Colégio Máximo Palotino. Foi ordenado sacerdote em 21 de dezembro de 1958, no Santuário da Medianeira, pelo bispo Dom Luiz Victor Sartori, diante da mãe emocionada.
Primeiros trabalhos pastorais
Repleto de entusiasmo, iniciou o ministério sacerdotal em Cruz Alta (RS), onde auxiliava na paróquia, dava aulas e era capelão de colégio. Após enfrentar problemas de saúde, foi enviado a Campos do Jordão (SP), onde se recuperou e continuou seu trabalho pastoral.
De volta ao Rio Grande do Sul, foi pregador de retiros em Santa Maria e atuou na Frente Agrária Gaúcha (FAG), organização da Igreja Católica que orientava pequenos agricultores e sindicatos rurais. Dedicou-se à formação de lideranças e à defesa da reforma agrária e do cooperativismo, tornando-se figura de destaque no meio rural.
A vida militar: 22 anos na AMAN
Em 1964, ingressou na Capelania Militar, em Cruz Alta, sendo transferido em 1969 para a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), em Resende (RJ). Ali permaneceu por 22 anos, tornando-se referência espiritual para cadetes, oficiais e famílias militares.
Na AMAN, estruturou a Capelania como uma verdadeira paróquia. Criou conselhos pastorais, apoiou a União Católica dos Militares, fundou grupos vicentinos e incentivou movimentos como o Cursilho de Cristandade, a Renovação Carismática Católica e a Legião de Maria. Promovia cursos de formação, encontros de casais, retiros e atividades comunitárias.
Além disso, foi presença constante na vida local: manteve um programa diário de rádio, lecionou Filosofia em escolas da cidade e recebeu o título de Cidadão Resendense em 1977. No Exército, foi promovido a Tenente-Coronel Capelão e agraciado com medalhas de reconhecimento, incluindo a do Pacificador.
Roma e a experiência internacional
Em 1990, ao passar para a reserva militar, seguiu para Roma, onde cursou Espiritualidade no Instituto Teresiano, obtendo diploma com nota quase máxima. Foi período de enriquecimento pessoal e religioso, vivendo próximo ao túmulo de São Vicente Pallotti, fundador dos Palotinos e Palotinas.
Visitou diversos países e lugares santos, experiência que fortaleceu sua visão missionária.
Pastor em Dourados
De volta ao Brasil em 1992, assumiu a Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Dourados (MS), onde permaneceu por 12 anos. Lá expandiu comunidades, construiu oito capelas, promoveu encontros de jovens e casais, acompanhou os movimentos de Igreja e fortaleceu a devoção popular.
Durante sua presença, da paróquia original nasceram três novas: Santa Teresinha, Nossa Senhora do Carmo e Rainha dos Apóstolos. Sua presença se fez sentir também no rádio, em visitas a famílias e enfermos, e no acompanhamento de mais de 800 grupos da Mãe Peregrina de Schönstatt. Foi reconhecido pela Câmara Municipal com o título de Cidadão Douradense.
Chácara São Vicente Pallotti e últimos anos
De 2005 a 2014, residiu na Chácara São Vicente Pallotti, onde viveu em fraternidade e se manteve dedicado ao serviço pastoral, visitas e aconselhamentos. Mesmo em idade avançada, afirmava sentir-se realizado e feliz, sempre disposto a servir à Igreja e ao próximo. A partir de 2014, até sua morte, passou a morar na Comunidade Padre Caetano Paghiuca, no Patronato, em Santa Maria (RS).
Nos últimos tempos de sua vida, esteve quase em estado vegetativo, acamado, mas sempre bem assistido pela equipe médica e confortado pela presença fraterna dos confrades. Recebia constantemente visitas de admiradores, amigos, familiares e militares.
Faleceu no Hospital de Caridade, na noite do dia 2 de setembro de 2025. O velório aconteceu no dia 03 de setembro, na Paróquia Santo Antônio do Patronato, em Santa Maria, reunindo confrades, amigos, familiares e militares. A celebração eucarística de despedida foi realizada às 15h, presidida pelo padre Gilberto Antônio Orsolin, Reitor Provincial, e, apesar da chuva, contou com uma grande multidão de fiéis e merecidas homenagens.
Afirmou o padre Gilberto, em sua homilia: “O padre Divilio era uma pessoa trabalhadora, incansável, de oração, de amor à comunidade palotina e dedicada aos serviços da Igreja, ao Cursilho de Cristandade e a tantas outras atividades e pessoas”.
Na sequência, realizou-se o cortejo fúnebre até o Cemitério de Vale Vêneto, onde recebeu honrarias militares do Exército Brasileiro.
Espiritualidade e legado
Ao longo de mais de 50 anos de presbítero, Padre Duvílio enfrentou doenças, provações e desafios, mas manteve firme a fé e a fidelidade ao chamado a sua vida religiosa consagrada palotina. Cultivou uma vasta biblioteca, acompanhou as mudanças da Igreja após o Concílio Vaticano II e buscou sempre atualização teológica e pastoral.
Em suas palavras, a maior lição de vida é: “Nunca desanimar em meio às tribulações e confiar na graça de Deus e na proteção maternal de Maria.”
Fã de futebol e torcedor do Grêmio, preservou simplicidade e humanidade em sua missão. Também em sua vida considera como momentos mais marcantes sua primeira eucaristia e sua ordenação presbiteral.
Seu maior sonho continua sendo o de todos os padres e irmãos palotinos: após cumprir a missão, receber de Cristo a recompensa da vida eterna!
Por Pe. Judinei Vanzeto, SAC