Perto da solene Vigília da Páscoa, estávamos reunidos na capela da Casa de Retiros, em Santa Maria (RS) e na Igreja São Roque, em Faxinal do Soturno (RS), para agradecer a Deus pelo dom de nosso querido irmão falecido, Pe. Bernardino Trevisan, e para pedir-lhe que o faça bem participante da ressureição de seu Filho, Jesus Cristo. Estamos todos sentindo a sua inesperada e brutal partida, mas cremos que ele terminou, em profunda paz e comunhão interior, a sua longa e nada fácil caminhada de vida e de trabalho.

Para motivar a ação de graças e também para pedir a Deus que o tenha para sempre em plena comunhão, descrevem-se aqui alguns pontos de sua rica vida.

1.   Família

Padre Bernardino nasceu e foi batizado na Paróquia São Marcos de Novo Treviso, hoje capela da Paróquia São Roque de Faxinal do Soturno (RS). Nasceu no dia 14 de junho de 1923, e seus pais foram Jacob Trevisan e Amábile Da Ros. Entre seis irmãos e quatro irmãs, ele era o terceiro. Foram também padres Palotinos os seus irmãos Alberto, Genésio e Sisto. Três irmãs do Bernardino são Irmãs de Maria de Schoenstatt e, no céu, Bernardino foi unir-se aos seus irmãos padres Alberto e Sisto.

2.   Formação e ordenação

Bernardino completou os estudos primários no Seminário Rainha dos Apóstolos, de Vale Vêneto (RS), no qual entrou em 1935, e fez parte dos estudos secundários naquele mesmo seminário, completando-os no Seminário São José, em Santa Maria (RS).

Fez seu noviciado palotino e seus estudos de Filosofia em São João do Polêsine (RS), pois, naquela casa de formação Palotina, em 1941, iniciou também o curso de

Filosofia - Bernardino foi um dos seus primeiros alunos. Até 1945, a casa de noviciado de São João do Polêsine, além de introdução à vida religiosa palotina (curso de noviciado), foi também escola de Filosofia orientada pelos Padres e Irmãos Palotinos.

Os seminaristas Palotinos fizeram o curso de Teologia no Seminário Central de São Leopoldo (RS) até 1948, dirigido pelos padres Jesuítas. Bernardino estudou dois anos em São Leopoldo, de 1946 a 1947, e de 1948 a 1949, no Seminário Maior de São João do Polêsine que, em 1948, abriu também o curso de Teologia com a grande colaboração da Diocese de Santa Maria (RS), que ofereceu Mons. Valentiom Ferrari como professor de moral. Bernardino fez um ano e meio de Teologia: 1948 e parte de 1949.

Ainda sem terminar o curso de Teologia de 1949, Bernardino foi ordenado sacerdote por Dom Antônio Reis, no dia 14 de agosto de 1949, na igreja de Faxinal do Soturno. Logo depois da sua ordenação, ele foi enviado a Roma para fazer doutorado em Direito Canônico, na Pontifícia Universidade Gregoriana, onde esteve de 1949 a 1953, a fim de ser professor no Seminário Maior de São João do Polêsine, que se tornara também um seminário internacional.

Pe. Bernardino teve a graça de participar na beatificação de São Vicente Pallotti, em 22 de janeiro de 1950, em Roma, tendo feito o doutorado em Direito Canônico, participou também ativamente no Capítulo geral de 1953.

3.   Atuação na educação e SAC

Pe. Bernardino, ao retornar ao Brasil, desde o ano 1954 até poucos anos atrás, foi dedicado professor no Seminário Maior de Polêsine (1954-1958) e especialmente no Colégio Máximo Palotino, em Santa Maria, a partir de primeiro de maio de 1958.

Por vários anos, ensinou também Filosofia e Direito na Faculdade de Direito de Santa Maria.

Além de grande professor de Moral e de Direito Canônico, em São João do Polêsine e em Santa Maria, foi também Reitor do Seminário Maior de Polêsine e o primeiro Reitor do Colégio Máximo Palotino em Santa Maria. Foi também Conselheiro Provincial, Superior Provincial e hábil Secretário Provincial.

Além do seu trabalho no Seminário Maior e na Direção da Província, teve também grande participação e atuação no estudo e na educação de toda a Sociedade do Apostolado Católico. Como Superior da Província Nossa Senhora Conquistadora, participou especialmente no Capítulo Geral Extraordinário da Sociedade, realizado no fim de 1968 e no começo de 1969. Participou também no Capítulo Geral de 1971.

Em 1969, ele foi nomeado membro da Comissão Jurídica da Sociedade e trabalhou na elaboração das novas Constituições da Sociedade do Apostolado Católico. Era um dos membros mais ativos e estimados da Comissão Jurídica. Fez parte dessa comissão até o fim de 2004. Pe. Bernardino foi também Juiz no tribunal Eclesiástico e Vigário Judicial na Diocese de Santa Maria.

Não se pode escrever a história da Sociedade, da Província e do Seminário Maior Palotino de Polêsine e Santa Maria, deixando de lado ou dando pouca importância ao Pe. Bernardino. Ele acompanhou os estudos e os passos da Sociedade e deu sua importante colaboração. Além de grande estudioso e dedicado professor e orientador, mas foi excelente sacerdote em toda a sua vida.

Trabalhou em paróquias e capelas, em comunidades religiosas, pregou muitos retiros, foi confessor de muitas pessoas e comunidades. Preparou-se muito bem para celebração o Tríduo Pascal, de 2011, na Capela São Marcos, em Novo Treviso, quando foi violentamente atingido por uma Kombi, no dia 20 de abril de 2011, às 14h30min, quase no centro de Santa Maria.

 4.   O testemunho espiritual

Pe. Bernardino começou, cultivou e manifestou uma rica e profunda vida espiritual. Procurou imitar São Vicente Pallotti, que queria que a vida de Cristo fosse a sua própria vida. A exemplo de Jesus Cristo, que fez de toda sua vida doação e serviço pela salvação e santificação de todos os homens, Pe. Bernardino não trabalhou para si, mas para os outros, contentando-se sempre com o mínimo de coisas para si mesmo.

Dava grande importância à meditação, à leitura espiritual, ao terço, à celebração eucarística diária e à adoração. Foi ativo e aberto sacerdote até o dia em que foi mortalmente atropelado. Também era devoto de São Pio de Pietrelcina, que ele conheceu pessoalmente em 1953. O seu grande conhecimento dos escritos de São Pio e a sua união espiritual com ele despertaram nele forte vida nova, vigor, alegria e entusiasmo, como podem dizer os que participavam nas suas orações e celebrações na capela São Marcos, em Novo Treviso, e especialmente na Ermida, no Cerro Comprido, no município de Faxinal do Soturno.

5.   Os últimos anos sofridos

A vida do Pe. Bernardino não foi fácil, principalmente nos últimos dez anos. Silenciosamente, ele sofreu física e espiritualmente. Teve graves problemas de saúde. Problemas de pulmão, muita tosse, muita dor nas costas e nas pernas. Houve um tempo em que quase não podia caminhar ou subir degraus e devia

apoiar-se num bastão. Por muito tempo, sofreu dolorosas massagens. Mesmo assim, nunca ficou em casa e consagrou todos os fins de semana e os dias santos ao trabalho pastoral nas capelas ou na Ermida do Cerro Comprido, em Faxinal do Soturno. Foi também atingido pela herpes e quase perdeu totalmente um olho, o que o impediu de renovar a carteira de motorista.

Certamente, graças à ajuda de São Pio, em 2010 e 2011, ele abandonou o bastão e subia escada e degraus de altar, embora não pudesse mais dobrar o joelho. Aqueles que o viram caminhar, celebrar e falar podem até dizer que Bernardino parecia ter rejuvenecido.

Contudo, apesar da dor e das lágrimas derramadas, devido à morte trágica do confrade, quer-se agradecer a Deus pelo dom que foi o Pe. Bernardino na vida, no trabalho e no apostolado da Sociedade do Apostolado Católico.

6.   Sepultamento

Pe. Bernardino Trevisan faleceu às 03h30min da madrugada de 23 de abril de 2011, Sábado Santo, mas seu corpo teve pouco tempo para ser devidamente velado como se desejava. Por ter sido vítima de um acidente, o corpo, antes de ser preparado e posto no caixão, devia passar pelo médico do Instituto Médico-Legal (IML). Como era sábado, e o médico demorou muito a chegar, o corpo só foi liberado e chegou à Capela da Casa de Retiros, às 12h15min. Era esperado por um bom número de pessoas, especialmente pelas duas Irmãs de Maria do Bernardino e por outras Irmãs de Maria e amigos. O enterro devia ser feito no próprio sábado, até por prescrição médica. Como se podia ver, o corpo do falecido estava bastante inchado na cabeça, rosto e mãos.

Para a despedida, foram planejados três momentos: uma celebração eucarística em Santa Maria, uma segunda em Faxinal do Soturno e o enterro no cemitério palotino de Vale Vêneto.

Às 14h, na Capela da Casa de Retiros, houve a celebração eucarística. A capela não ofereceu espaço suficiente para acolher a todos. As Irmãs de Maria assumiram os cantos e Pe. Genésio Trevisan, seu irmão e amigo, com clareza e muita emoção, iniciou a celebração eucarística, que foi continuada pelo Reitor Provincial Pe. Lino Baggio.

Após a celebração eucarística, o corpo foi levado à Paróquia São Roque, em Faxinal do Soturno. Pe. Genésio Trevisan, irmãos, parentes e outras pessoas acharam melhor fazer a celebração eucarística em Faxinal do Soturno, facilitando maior participação de familiares e parentes e de muitíssimos amigos do Bernardino.

Quando o corpo chegou à igreja de Faxinal do Soturno, ela estava totalmente tomada de pessoas e por isso não pôde dar espaço a todos. A celebração eucarística começou às 16h e foi presidida pelo Arcebispo de Santa Maria, Dom Hélio Adelar Rubert. Ele fez breve homilia e destacou o testemunho sacerdotal do Pe. Bernardino. No final da missa, o Prefeito de Faxinal do Soturno agradeceu a Deus pelo dom que foi o Pe. Bernardino Trevisan para a cidade, para Novo Treviso e particularmente para a Ermida do Cerro Comprido.

 Após a bênção final, dada pelo Arcebispo e pelos sacerdotes, o caixão foi fechado e levado para Vale Vêneto. Pe. Lino Baggio assim descreveu a chegada, a bênção do túmulo e a entrega do corpo à terra: "Após a celebração em Faxinal, muitos dos presentes acompanharam o cortejo até o Cemitério dos Padres e Irmãos Palotinos, em Vale Vêneto. Ao chegar lá, num clima de muita emoção, todos sentiram que Pe. Bernardino os estava deixando devagarzinho, sem fazer barulho, discretamente, da forma como viveu todos os momentos de sua vida. Mesmo sabendo da gravidade do acidente, todos alimentavam a chamada esperança de que o Senhor ainda precisava de sua missão entre nós. Pe. Genésio, seu mano, abençoou o túmulo e pronunciou as orações em que se deu a entrega final às Mãos do Pai. Na expressão dos presentes, era visível o agradecimento pelo amor que Pe. Bernardino deixou por onde passou. Com certeza, todos gostariam de dizer-lhe: Nós sentiremos a tua falta! E, quando nosso coração sentir saudade, saberemos reconhecer que Deus é maior do que o nosso coração".

7.   Conclusão

Para finalizar esta exposição sobre o querido Pe. Bernardino Trevisan, apresentam- se as poucas palavras do Pe. Wolfgang Weiss (Palotino alemão) e das Irmãs Carmelitas de Santa Maria.

Quando pela internet receberam a notícia da morte do Pe. Bernardino ao Pe. Wolfgang Weiss, grande amigo dele e que está na Casa Geral em Roma, imediatamente mandou as seguintes palavras: "Nós perdemos um bom amigo aqui na terra, mas ganhamos um intercessor no céu".

 As irmãs Carmelitas de Santa Maria conheciam e amavam muito o Pe. Bernardino. Quando souberam, manifestaram a seguinte: "Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo! Agradecemos as notícias e a comunicação da partida para o Céu do nosso grande amigo, Pe. Bernardino. Foi celebrar a festa da Ressurreição no Céu, com Jesus! Um grande, fiel e santo Sacerdote! Que o Bom Deus lhe conceda estar junto Dele, com grande glória".

A Deus, à Rainha dos Apóstolos e a São Vicente Pallotti, roga-se que as grandes aspirações, iniciativas e trabalhos do Pe. Bernardino não se apaguem, mas vivam, cresçam e frutifiquem!