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Notícias

08/06/2025 - In Memoriam

Padre Reneu Pegoraro Stefanello (1947-2018)

A vida se faz poesia quando os olhos emitem raios de esperança onde a história deixou suas marcas tristes. Foi com esse olhar brilhante que Padre Reneu Pegoraro Stefanello viveu seu ministério sacerdotal e deixou para a Província e para a Igreja um sólido legado de um apaixonado pela poesia, pela natureza, e pela missão. Desde o seu nascimento, quando sua mãe lhe recitou um pequeno verso de boas vindas, até o seu trabalho no Santuário de Nossa Senhora da Amazônia, onde o crepúsculo lhe foi apresentado, a poesia, a natureza e a missão ditavam o tom e o colorido da vida desse homem de Deus e do apostolado. Um dia dona Angelina disse ao seu flho Reneu: “À beira de uma estradinha, existe uma casinha. Foi ali que eu vim à Luz. Num dia mui calmo e sereno, ali me tornei pequeno, como em Nazaré, Jesus”. Hoje, 8 de junho de 2018, num dia também sereno, de sol confortante e frio singelo, Padre Reneu, que um dia foi pequeno como Jesus, foi chamado ao encontro com Ele. Um dia era só uma casinha de um lugar qualquer num mundo qualquer. Hoje, um Padre que leva consigo todos os belos frutos que produziu no Jardim de Deus.

2.  FAMÍLIA

Pe. Reneu nasceu no dia 4 de novembro de 1947, em Novo Paraiso, Nova Palma (RS). Seu pai, Albino Stefanello, era agricultor, homem trabalhador, simples, e muito religioso. Sua mãe, Angelina Pegoraro, era uma mulher incansável no trabalho e no zelo com as coisas da casa e com a família, e também marcada por uma profunda espiritualidade.

O casal teve 12 filhos, sendo que quatro se tornaram Padres Palotinos, Antoninho, Reneu, José Carlos e Paulo. A família era tão religiosa e prezava tanto pela espiritualidade, que seus pais construíram junto casa onde moravam um pequeno santuário em honra a Mão Rainha.

Este singelo santuário, além de ser um lugar de oração, era também um lugar no qual os pais ensinavam aos filhos os valores cristãos e o amor familiar. Pe. Reneu, durante sua vida terrena, demonstrou seu amor pela família sanguínea estando sempre presente junto aos seus, honrando sua história e levando a bom termo tudo que herdou de sua casa.

3.  VOCAÇÃO E SEMINÁRIO

O amor familiar e religioso que levou o jovem Reneu a amar mais uma outra família, e a caridade aprendida na taipa do fogão de lenha, nos ensinamentos do pai e da mãe, colocaram no coração dele um desejo ardente de servir a todos. No ano de 1956, o quinto filho de Albino e Angelina, ingressou no Seminário Nossa Senhora Aparecida em Ivorá (RS). No entanto, no seu coração ardia o desejo de ser Palotino. Para ele era forte a memória dos padres palotinos que atendiam Nova Palma.

O jovem Reneu ficava admirado com a forma como os padres palotinos eram amados e respeitados pelo povo. De forma especial, marcou-lhe a vida o Pe. João Zanella pela sua intensa caridade e trabalho incansável. Por isso, ouvindo a voz do coração e apoiado por seus pais, Reneu ingressou no Seminário Rainha dos Apóstolos, em Vale Vêneto (RS), no dia 12 de fevereiro de 1958.

As boas lembranças da vida sempre deram um sabor especial aos contos do Pe. Reneu. Quando entrevistado pela revista Informações Palotinas por ocasião do seu jubileu de 25 anos de ordenação presbiteral, no ano 2000, ele fez questão de narrar as belas lembranças da casa de seus pais e do seminário. Da família de sangue, se recordava do carinho, da convivência, da espontaneidade da vida campesina. Do seminário, se recordava da fraternidade, da alegria, dos padres que lhe cuidaram e da espiritualidade mariana. No seminário de Vale Vêneto, o jovem Reneu encontrou seu lugar na Igreja, e ali, naquele seminário na beira da estradinha, em um outro lugar qualquer num universo imensurável, nascia para a Igreja mais um discípulo missionário de Jesus, além de um bom goleiro e bom cantor como ele próprio dizia de si, e há quem diga que ele era mesmo.

No ano de 1967, Reneu realizou seu ano de noviciado em Augusto Pestana (RS). Para ele foi um ano delicado, com muitas provações e dissabores, mas que também serviu para firmar o anseio vocacional e aprender na adversidade o que é perseverança. No ano de 1968, iniciou seus estudos de Filosofia na Universidade Federal de Santa Maria. Já no dia 15 de março de 1969, realizou sua primeira profissão religiosa na Sociedade do Apostolado Católico. No período formativo, Pe. Reneu possuiu uma intensa vida de serviços e estudos, chegando até a arrumar um emprego comum durante o período dos estudos filosóficos. Além disso, era integrante de vários movimentos estudantis e, quando nos estudos teológicos, se dedicou muito às atividades de formação dos leigos, aos movimentos e jornadas juvenis. Além disso, Pe. Reneu obteve pós-graduação em Administração Escolar, do Curso de Especialização em Educação, pela Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras de Ijuí (RS), em 1979.

Foi durante o período de formação que sua mãe, dona Angelina, após um período longo de enfermidades, foi vitimada pela leucemia e veio a falecer. Pe. Reneu contava com emoção que nunca esqueceu da presença de seus formadores e irmãos de comunidade no funeral de sua tão amada mãe que para ele, era indubitavelmente uma santa.

No último ano do curso de Teologia, em 1975, Pe. Reneu realizou sua profissão perpétua no dia 25 de março, foi ordenado diácono no dia 20 de setembro, e no dia 20 de dezembro, foi ordenado presbítero pela imposição das mãos do então bispo diocesano de Santa Maria, Dom José Ivo Lorscheiter.

4.  TRABALHO PASTORAL

Durante o exercício do seu ministério sacerdotal, Pe. Reneu manteve vivos os princípios que aprendeu em casa e na formação, principalmente: vida de oração, devoção mariana, caridade com os pobres, ardor missionário, e serviço incansável. Aquilo que outrora ele admirou tanto em seus pais e nos padres que conheceu, agora ele mesno desenvolvia com alegria e gratidão. Sua vida apostólica foi intensa e além daquilo que era próprio do ministério sacerdotal, e Reneu também foi: coordenador diocesano de pastoral; coordenador estadual de Ensino religioso no MS; professor do Estado de MS com exercício de encargo especial na Coordenadoria Geral de Educação da Secretaria de Educação do MS; subsecretário da CNBB regional Oeste 1; diretor do ITEO: diretor do Instituto Vicente Pallotti, professor de Mariologia: dentre outras atividades. Trabalhou em várias cidades pertencentes à Província Nossa Senhora Conquistadora: Santa Maria (RS); Santo Augusto (RS); Porto Alegre (RS); Campo Grande (MS); Glória de Dourados (MS); Nova Alvorada do Sul (MS); Ariquemes (RO); Porto Velho (RO); Manaus (AM). Esteve até uma temporada morando em Roma – Itália, colaborando em uma Paróquia.

A sinceridade e autenticidade, mesmo que às vezes controversas, marcam a vida e a missão do Pe. Reneu Stefanello, homem simples que de eucaristia em eucaristia anunciava a bondade de Deus.

Amante das missões populares sentia forte em seu coração o desejo de contribuir com a formação do laicato. Convicto da importância de seu serviço gostava de se preparar bem e sempre se dispunha a fazer cursos e atualizações. Foi missionário, professor, diretor, e até escritor de livro, mas acima de tudo, soube ser Padre. Nasceu de forma simples e partiu na felicidade dos justos, sem tesouros terrenos, mas cheio de belas histórias para contar a Jesus no céu. Dentre tantos momentos bonitos de sua vida familiar e sacerdotal, um foi muito especial para o Pe. Reneu.

Uma vez, numa peregrinação à Terra Santa junto com seu irmão Pe. José Carlos, eles tiveram a oportunidade de celebrar a Missa dentro do Santo Sepulcro. E os desafios? Esses foram muitos, mas ele sempre dizia que para vencer os desafios “é preciso deixar o coração sempre cheio, porque o coração com espaços vazios tende a ser preenchido com surpresas”.  

No dia nove de dezembro de 2015, através da carta de nomeação de Dom Sergio Eduardo Castriani, arcebispo metropolitano de Manaus, Padre Reneu passou a viver seu último amor e não sabíamos, nós e de que ali viveria seus também últimos versos em meio à beleza da floresta sob o manto de Nossa Senhora da Amazônia. Dizem que o ar da de velhice é o mais belo porque traz consigo toda a experiência e sabedoria da vida. Ao ser nomeado pároco da Área Missionária Nossa Senhora da Amazônia, Bairro Ponta Negra, em Manaus, Padre Reneu levou para aquela paróquia, de templo único, toda a experiência de uma vida inteira. Assim, ele ajudou a construir a comunidade viva e o templo material, e sua devoção mariana cultivada na infância se transformou num amor filial pela Mãe de Jesus que ele agora descobriu como Mãe e guardiã dos povos da Amazônia.

Todos os que foram até o Santuário de Nossa Senhora da Amazônia, saíram de lá encantados com as histórias que o Padre Reneu contava sobre aquele lugar e também maravilhados com cada detalhe artístico daquela igreja. Nos ícones religiosos, nas mobílias e nas alfaias, liturgia católica e cultura amazônica se complementam numa beleza ímpar, e tudo minuciosamente orquestrado pelo pároco.

Por onde passava, e até através das mídias sociais, Pe. Reneu levava consigo a devoção à Nossa Senhora da Amazônia – quem acompanha as notícias do Informativo Palotino, tem acompanhado tal propagação de fé. No santuário da Amazônia, Pe. Reneu reencontrou outra ‘casinha’, numa outra ‘estradinha’, em um outro lugar qualquer’, e aí reviveu as poesias que trazia dentro de si e que faziam o mundo se encher de amor e de esperança.

5.  ENFERMIDADE E MORTE

Lamentavelmente, os homens incansáveis não são imbatíveis, e surpreendido por uma leucemia mieloide aguda, Pe. Reneu teve que deixar Manaus e vir à Santa Maria em busca de tratamento. Logo que chegou já foi levado para o Hospital de Caridade. Muito debilitado foi para a UTI, também por causa de uma pneumonia, mas não resistiu e faleceu. Assim, mais uma história é contada. Mas não se trata de mais uma história qualquer. Trata-se de um pouco da história da Família Stefanello e da Família Palotina, que coabitando juntas no coração do Padre Reneu, estiveram com ele em toda a sua trajetória de vida e apostolado. E aonde ele fez o bem, celebrou os sacramentos e anunciou o evangelho, aí estava a poesia da família, a alegria da congregação e todas as bênçãos de Deus que honra os seus amados. E para aqueles que ainda vão ouvir falar sobre essa história, vale eternizar neste papel o que um dia falou o Pe. Reneu: “Não me parece digno ficar indiferente às pessoas que compartem sua vida com meu sacerdócio. Me apaixono por elas. Elas fazem nascer em mim o novo, que me fascina e faz feliz”.