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Notícias

03/05/2025 - In Memoriam

Padre Bonfilho Soldera (1929-2015)

A Paróquia São Roque de Faxinal do Soturno (RS) foi muito rica de vocações sacerdotais e religiosas, mas, nos anos 2014-2015, viu também a partida de cinco palotinos: Pe. Valdir Bisognin (1944) e Pe. Ge- nésio Trevisan (1925) em 2014, e Pe. Aguinelo Burin (1933), Irmão Reik Burin (1935) e Pe. Bonfilho Soldera (*1929) em 2015.

O Evangelho do domingo 3 de maio de 2015 tinha como texto a videira e os seus ramos, e Pe. Bonfilho Soldera como fecundo ramo da videira, que é Cristo, foi colhido pelo Pai. Se diminuiu bastante o número dos galhos da videira, que é a nossa Província, mesmo assim agradecemos a Deus pelo dom desses irmãos que partiram e também e lhe suplicamos o dom de novas e boas vocações. Queremos agradecer a Deus pela vida e o trabalho do nosso coirmão Bonfilho Soldera, mas com muita confiança lhe pedimos muitos e novos ramos para a videira de Cristo que é também a nossa Província. Apresentamos alguns dados da vida e do trabalho do nosso falecido coirmão Bonfilho Soldera, SAC.

 Seu nascimento e formação

Bonfilho Soldera nasceu em Novo Treviso, município de Faxinal do Soturno, em 31 de dezembro de 1929. Seus pais foram Luiz Soldera e Maria Ana Cella, agricultores. Bonfilho era o quarto entre os filhos desse casal cristão: Pio, Ovídio, Milena, Bonfilho, Alice, Eusébio, Onésimo, Iracema e Osvaldo. Sua família era muito cristã e muito envolvida em vocações sacerdotais e religiosas, rezava pelo seu florescimento e ajudava- as também materialmente.

Certamente, tocados e animados pela presença e o testemunho dos seus três tios sacerdotes, Artur Soldera (1910-1995), Antônio Soldera (1918-2014) e Mateus Soldera (1921-1986), Pio José Soldera (1925-2007) e Bonfilho Soldera com alegria aceitaram o convite de Jesus Cristo e tornaram-se sacerdotes palotinos, e Milena Soldera entrou na Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria.

Bonfilho começou os seus estudos primários, em Novo Treviso. no Colégio das Irmãs do Imaculado Coração de Maria, e completou-os no Seminário Rainha dos Apóstolos, dos Padres e Irmãos Palotinos, de Vale Vêneto, distrito de São João do Polêsine (RS) nos anos 1941-1942. Naquele mesmo lugar, nos anos 1943-1946, fez os estudos ginasiais o em 1947-1948, fez também os estudos colegiais. Em 1949-1950, fez os dois anos de noviciado no Colégio Santo Alberto, em Dr. Pestana, hoje Augusto Pestana, sob a orientação do Pe. José Stefanello (1914-2004). Ainda como noviço, em 1950, iniciou o Curso de Filosofia, na casa do Noviciado, e completou-o no Seminário Maior de Polêsine, nos anos 1952-1953. Fez a sua primeira Consagração a Deus na Sociedade do Apostolado Católico (SAC), em 2 de fevereiro de 1951, e a Perpétua, em 2 de fevereiro de 1954.

Sua ordenação sacerdotal

Antes do Concílio Vaticano II, havia mais ordens eclesiásticas que hoje. Através da tonsura, feita pelo Bispo, o jovem seminarista tornava-se clérigo e recebia quatro ordens menores: acólito, exorcista, leitor e porteiro e três maiores: subdiácono, diácono e presbítero. Hoje só há duas ordens menores, chamados ministérios (leitor e acólito) e duas maiores, isto é, diaconato e presbiterato. Além disso, como o diaconato faz parte do sacerdócio é quase sempre recebido, seis meses antes do sacerdócio, e o diácono pode exercer a sua ordem em paróquias, em batizados, Casamentos, enterros etc.

Bonfilho Soldera foi ordenado sacerdote por Dom Luiz Vitor Sartori, na cripta do Santuário da Medianeira, em Santa Maria (RS), no dia 22 de dezembro de 1957, tornando- se, em três dias, subdiácono (20.12), diácono (21.12) e sacerdote (22.12). Na metade do terceiro ano de teologia, teve uma crise cardíaca que o levou a permanecer oitenta dias hospitalizado, principalmente em Porto Alegre (RS), sob os cuidados do Dr. Eduardo Faraco e da sua equipe. Fez também a metade do quarto ano de teologia em Santa Maria, em 1958.

 Suas principais atividades

Tendo terminado o curso de Teologia, no primeiro semestre de 1958, Pe. Bonfilho Soldera, na segunda metade daquele ano, iniciou o seu ministério sacerdotal. De junho a agosto, atuou como Capelão no Hospital de Caridade em Santa Maria, e, de agosto até 2 de fevereiro de 1959, foi Capelão no Colégio Frei Rogério, dos Irmãos Maristas, em Joaçaba (SC).

Em 1959, foi nomeado vigário do curato de Faxinal do Soturno, e foi encarregado por Dom Luiz Vitor Sartori de preparar a criação da Paróquia São Roque. Depois de reconhecer o trabalho feito pelo Pe. Bonfilho, o Bispo, no dia 15 de agosto de 1960, criou a Paróquia São Roque e como seu primeiro pároco nomeou o próprio Pe. Bonfilho Soldera que fez bom trabalho com todos, mas especialmente com os jovens.

No início de março de 1961, Pe. Bonfilho foi nomeado pároco de Vale Vêneto, onde fez a experiência de pregar o retiro de três dias a cada classe: aos moços, moças, homens e mulheres, a fim de reavivar a fé e reacender a religiosidade. Mas durante o retiro dos homens, teve que deixar Vale Vêneto para assumir e colocar em ordem duas livrarias Pallotti, uma em Santa Rosa e outra em Santo Cristo, que tinham sofrido um desfalque pela gerente. Neste seu trabalho de colocar em ordem as livrarias, Pe. Bonfilho começou também a lecionar na Escola Normal Santa Rosa de Lima, das Irmãs Franciscanas, e auxiliou também a paróquia da cidade e aquelas das cidades vizinhas, especialmente aquela de Giruá (RS). Quando na metade de 1963 a livraria de Santa Rosa estava mais ou menos em ordem, foi fechada e todos os seus bens foram transferidos para Santa Maria. E Pe. Bonfilho, até o fim do ano, substituiu padres em diversos lugares.

De 1964 a maio de 1969, Pe. Bonfilho foi Diretor da Casa de Retiros, em Santa Maria. Além da direção da casa, organizou e pregou quase todos os seus cursos e retiros, pois contava com pouca ajuda de outros coirmãos. Durante o tempo em que esteve na Casa de Retiros, Pe. Bonfi lho, de 1965 a 1969, foi também professor de Deontologia Econômica da Faculdade de Economia dos Irmãos Maristas de Santa Maria. E de 1966 a 1968, foi também professor de Direito Canônico da Faculdade de Direito dos Irmãos Maristas de Santa Maria.

Na segunda metade de 1969, Pe. Bonfilho esteve ajudando o Pe. Vitélio Trevisan em Camobi, bairro de Santa Maria, enquanto terminava o seu curso de Direito em Santa Maria e continuava o curso de Filosofia, com frequência livre em Bagé (RS), e, em 1970, licenciou-se em Filosofia, em Ijuí (RS).

Em 1970, Pe. Bonfilho tinha sido indicado para assumir a Rádio Vicente Pallotti, em Coronel Vivida (PR), onde esteve para conhecer o lugar e a Rádio. Depois de quinze dias, voltou para buscar a bagagem. Mas chegou a Porto Alegre, com febre alta, o que fez o Dr. Lazzarotto diagnosticar lhe febre tifoide que o reteve meses em tratamento e lhe afetou também o coração. O médico desaconselhou a ir a Coronel Vivida e o Pe. Bonfilho permaneceu em Porto Alegre, ajudando na Paróquia Nossa Senhora de Fátima do IAPI, mas, na segunda metade do ano, transferiu-se para o Pallotti, ajudou na igreja local e deu atendimento espiritual cotidiano ao Hospital Lazzarotto. Fez este trabalho durante dez anos e já, no ano 1970, começou a administrar a Gráfica Pallotti, onde, tempo depois, foi substituído pelo Ir. Reik Burin.

Na Pallotti, em 1971, Pe. Bonfilho começou a exercer a advocacia, a pedido dos clientes que apareciam, e também para conseguir meios para tratar a saúde. Em 1975, assumiu a direção do Instituto Vicente Pallotti, e, em 4 de março de 1976, o Cardeal Vicente Scherer nomeou-o pároco da Igreja São Vicente Pallotti, mas com o encargo de construir a nova igreja, o que foi uma tarefa muito difícil por ser a paróquia pequena e com poucos membros ativos. Com muita dificuldade foi conseguindo os meios fundamentais para a construção que, em 1983, esteve completa, com exceção do salão paroquial.

Em 1983, Pe. Bonfilho deixou a direção da paróquia para o Pe. Aldemir José Busanello, mas continuou a dirigir o Instituto e a prestar aiuda jurídica à Gráfica Editora Pallotti e à Sociedade Vicente Pallotti, fundada em 1909, e cujas entidades necessitavam de unidade e de base jurídica segura.

Em 1969, Pe. Bonfilho elaborou novo Estatuto da Sociedade Vicente Pallotti, possibilitando incorporar nela os bens de todas as en-tidades. Conseguiu regularizar a situação jurídica da Sociedade Vicente Pallotti e salvar o seu patrimônio que corria o perigo de ser recolhido pelo governo. Por isso, desde 1969, toda a organização jurídica da Sociedade Vicente Pallotti teve a participação do padre-advogado Bon-filho Soldera que foi sempre defensor da Sociedade Vicente Pallotti e também de membros da mesma.

Ao deixar a administração da Paróquia São Vicente Pallotti, Pe. Bonfilho começou a ajudar na Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem, em Cachoeirinha, onde impulsionou a construção da igreja do Perpétuo Socorro e ajudou também na construção da casa paroquial. Depois de deixar aquela paróquia, após 15 anos de trabalho, começou a ajudar na Paróquia São José do Sarandi, em Porto Alegre, e, depois de um bom tempo naquela paróquia, trabalhou na Paróquia Goretti, em Porto Alegre, e, nos últimos anos, esteve trabalhando, outra vez, na Paróquia São José do Sarandi, em Porto Alegre, onde queria celebrar o último domingo de sua morte.

 O falecimento do Pe. Bonfilho Soldera

Muitas vezes Pe. Bonfilho Soldera conheceu e experimentou a doença, em 1958 e 1970, e, particularmente, nos seus últimos anos, mas sem deixar o trabalho de sacerdote e de advogado. Começou a sentir-se mais fraco no começo de maio, como notaram seus coirmãos de comunidade. Vejamos o que seu coirmão de comunidade, Irmão Leandro Carlos Benetti, SAC, escreveu a respeito dos seus últimos dias e momentos:

“Durante a semana que antecedeu sua partida, estivemos realizando alguns exames médicos na Unimed, cujos resultados sairiam na outra semana. O Pe. Bonfilho procurou o seu cardiologista, Dr. Alcides José Zago que solicitou vários exames na semana que se seguia. Porém, no final de semana, ele não esteve muito bem. No domingo de manha, ele não levantou e eu fui ao seu quarto pedir para que ele fosse tomar um café e tomar seus remédios. Ele desceu um pouco mais tarde. Após tomar seu café, subiu ao quarto, tomou banho e, por volta das 10h da manhã, desceu para ir rezar missa na Paróquia São José, do Sarandi. O Irmão Francisco Soncini aconselhou-o a não ir. Ele não foi e ficou um pouco no sofá, como era de costume. Próximo do meio-dia, ele voltou ao quarto e eu fui chamá-lo para comer uma sopa que tinha preparado especialmente para ele. Ele disse que não estava com vontade de comer.

Almoçamos e logo após fomos ao quarto e vimos que ele não estava bem. Ligamos ao seu cardiologista. Ele nos disse que era para levá-lo ao pronto atendimento do Hospital Mãe de Deus. Chamamos a assistência médica que presta serviço para o Colégio, a fim de irmos mais rápido, visto que o hospital fica perto do estádio “Beira-Rio”. Enquanto esperávamos a ambulância, o Pe. Bonfilho pediu para o Pe. Jadir Zaro ministrar-lhe o sacramento da Unção dos Enfermos, o qual foi prontamente atendido. Ele foi para um quarto e eu fui fazer os trâmites legais de internação, como tantas vezes já tinha feito. Por volta das 17h, os documentos ficaram prontos e o Pe. Jadir voltou para casa, pois tinha missa às 18h. Eu me dirigi ao pronto atendimento a fim de fazer a internação. Esperei mais uns 10 minutos, com o documento de internação e uma sacola de objetos de higiene pessoal.

Então fui chamado por uma enfermeira que me conduziu até um corredor próximo do quarto onde o Pe. Bonfilho estava. De dentro do quarto saiu o médico que começou a relatar um pouco o histórico de saúde do Bonfilho. Então, após este breve momento, ele disse “o Sr. Bonfilho Soldera teve uma parada cardiorrespiratória, seguida de outros agravantes e, às 16h45min, veio a óbito”. Há momentos na vida que se perde o chão: como assim, estou com os documentos de internação. Logo que soubemos, ligamos para anunciar e começamos a organizar os momentos de despedida”

 Velório, despedida e sepultamento do Pe. Bonfilho Soldera

Segundo o Irmão Leandro Carlos Benetti, o corpo do Pe. Bonfilho chegou à Paróquia São Vicente Palloti, por volta da meia-noite e meia, onde, as 7h da segunda-feira, 4 de maio de 2015, houve missa presidida pelo Pe. Jadir Zaro, acompanhada pela Comunidade Local Caritas Christi e por grande quantidade de familiares e amigos. No final da celebração, Pe. Jadir convidou os familiares do Pe. Bonfilho a estarem mais perto do seu corpo, como também as pessoas que estiveram trabalhando com ele, na Paróquia São Vicente Pallotti, no Colégio Pallotti, na Gráfica Pallotti, de São Leopoldo (RS), na Paróquia São José, do Sarandi, e aqueles que receberam sua ajuda de advogado. Foi uma celebração de muita devoção e agradecimento pelo bem feito pelo Pe. Bonfilho.

Logo após a missa, o seu corpo foi levado para a Igreja Matriz da Paróquia São Roque, em Faxinal do Soturno, a paróquia organizada e também inicialmente administrada pelo Pe. Bonfilho, e na qual se encontram muitos de seus familiares e amigos. O corpo chegou perto do meio-dia e, às 15h, houve grande celebração eucarística de despedida, presidida pelo Reitor Provincial, Pe. Edgar Xavier Ertl, e acompanhado pelos padres coirmãos das paróquias vizinhas e também por bom número daqueles de Santa Maria. Pe. Jadir Zaro, que conviveu muitos anos com o Pe. Bonfilho em Porto Alegre, recordou com saudade o coirmão que partiu e especialmente os seus últimos momentos e também a sua sentida despedida da comunidade e da paróquia.

Através dos cantos e também da palavra do presidente do Conselho Paroquial, o povo de Faxinal, presente, prestou seu testemunho e também reconheceu o trabalho que o falecido prestou à paróquia de Faxinal do Soturno.

Após a celebração, o corpo do Pe. Bonfilho foi levado ao Cemitério Palotino, em Vale Vêneto, acompanhado por um bom número de pessoas. A bênção do túmulo e as orações finais de encomendação teve-as o Pe. Egídio Trevisan, SAC, membro do Conselho Provincial. Durante a oração e o canto, o corpo do Pe. Bonfilho Soldera foi posto ao lado daqueles dos irmãos Aguinelo e Reik Burin.

Alegrias, esperanças e tristezas do Pe. Bonfilho Soltera

Ao celebrar os seus 50 anos de sacerdote, em 2007, Pe. Bonfilho respondeu a muitas perguntas feitas pelo Pe. Edgar Xavier Ertl, então redator de Informações Palotinas: Todas encontram-se em “Informações Palotinas” de julho-dezembro 2007, nas páginas 115-136.

Na página 133, Pe. Bonfilho dizia ter tido alegrias, esperanças e tristezas, mas nos momentos difíceis encontrou suporte na oração, na reflexão e no apoio de amigos. Sentiu a especial ajuda de Deus, mas também a de colegas amigos e compreensivos. Ao encarar a sua vida como uma caminhada ao encontro de Deus com muitas lutas, êxitos e fracassos, disse:

 “Penso que, no final, Cristo vai compreender e nos acolher como somos, considerando menos a pouca boa vontade existente e mais a sua generosidade infinita. Penso que a vida tem sentido enquanto vivemos unidos a Deus e somos úteis aos outros, desempenhando uma função entre Deus e os homens, embora imperfeitos” (p.133).

 “Penso que os maiores valores foram a vida em Deus, cultivada pela oração e participação na Eucaristia, e a possibilidade de poder servir as pessoas na transmissão da palavra de Deus e nos sacramentos, principalmente na Confissão. Sempre considerei o serviço ao outro um grande valor” (p.133-34).

“Penso que o padre encontra sentido à sua função quando sabe, com respeito, relacionar- se com os outros como amigo serviçal e prestador de orientação. Com a natureza, é importante descobrir e admirar sua beleza, vendo nela os traços da beleza invisível de Deus, respeitá-la e ensinar a todos a fazer o mesmo. A relação diária com Deus é o que dá sentido à vida do padre e lhe dá suporte para manter-se no caminho” (p.134).

 Pe. João Baptista Quaini, SAC